Sobre fadas, gnomos, ser humano e vida real
Em um mundo cheio de falhas morais, decisões dúbias e vidas repletas de conflitos, por qual razão um reality show que promete ser um reflexo da vida real elegeria uma pessoa perfeita como campeã?
Nos últimos anos, muitos enredos desse tal reality show foram pautados por debates moralistas, virtudes e o caráter de cada competidor. Mas a maré de virtudes passou e, tão dura quanto uma pedra, a realidade chegou e mostrou que de perto, ninguém é um poço de virtudes.
Na última eliminação deste tal reality, que faz referência a um livro de George Orwell, tivemos duas personagens na balança. A primeira era uma figura virtuosa, defensora do bem contra o mal e que até se intitulava fada. Justamente o ser mítico fofo, benevolente e está acima de qualquer corrupção do mundo real.
Já a segunda, era uma figura mundana, sem medo de errar ou assumir que falhava. Pouco se importava com a virtude dos outros, apenas queria o melhor para si, o que poderia ser visto como egoísmo, mas poderia ser também um exemplo de sobrevivência. Essa personagem já se intitulava gnomo, um ser que apesar de bom, não é tão bem-visto assim e que muitas vezes está com os que estão no subterrâneo.
Mas nesse pequeno conto de fadas da vida real, prevalece o humano. Aquele que falha, que sabe disso e está em constante construção. Que sabe que não sabe de nada e trabalha para conhecer mais sobre si e o ambiente.
Curioso pensar que na batalha que para muitos era entre o moral e imoral, por pouco venceu a humanidade que reconhece que é errada. No conto de fadas televisionado, com recortes da realidade transmitidos por mais de 70 câmeras, saiu quem se iludiu em ter tido boas atitudes.
Será que o público deste teatro da vida real entende que melhor é aquele que sabiamente erra, sem medo de enfrentar as consequências?
E se os tais participantes pudessem escolher entre o bem ou mal, seriam o quê? Não há opção livre. Na vida real ou no conto de fadas, é o narrador que te dá o papel, seja esse uma figura mitológica, divina ou diretora de variedades da segunda maior emissora do mundo. Mas é o público que te escolhe ou te descarta, na vida, ou no paredão.