Ser mãe ou ser Diva: qual fardo é o mais pesado de carregar?
No domingo, o Brasil relembrou um mês da morte precoce de Marília Mendonça, a ‘Rainha da Sofrência’, a Diva do feminejo. E um dos pensamentos que povoa a mente de fãs é: como ficará Leo, filho de Marília com Murilo Huff? Na maioria das entrevistas de amigos e parentes, o pequeno de dois anos é sempre relembrado, já que até pouco tempo, a avó Ruth contou que diz para o pequeno que a mãe está viajando.
Ao mesmo tempo, Adele — que é frequentemente comparada a Marília — colhe os frutos do sucesso de ‘30’, álbum com faixas que conversam com o filho Angelo sobre o divórcio que ela passou, como ‘My Little Love’. Mas o objetivo desse texto não é falar sobre a morte de Marília, ou de fazer mais uma comparação vazia entre as cantoras. Este texto é sobre maternidade e separação.
Adele, que aparece de tempos em tempos com um álbum repleto de hits, comentou em entrevista com Oprah e em rádios que o pequeno de 9 anos não se importa com a fama da mãe e que não está ciente do quanto a mãe contribui com a cultura e como ela é considerada uma Diva pelo mainstream.
“Outro dia ele estava me falando quantos seguidores eu tenho no Youtube, e que não chega nem perto dos seguidores de alguns gamers famosos que ele segue. E eu respondi, ‘Ok, muito obrigada por isso filho’. Então não, ele não está muito ciente disso ainda” Adele, em entrevista.
Já Marília, não teve tempo de contar quem ela era e nem o tamanho que ela tem para a música brasileira. Mas ela já sentia a dificuldade de se dividir entre a vida de Diva e a vida de mãe. Em entrevistas recentes, Marília dizia que os primeiros meses de volta aos palcos depois do nascimento de Leo foram os mais sofridos, porque queria ficar com ele e ver o desenvolvimento dele.
“Quando voltei para a estrada, ele estava com três meses, veio dois shows e veio a pandemia. Fiz os shows chorosos, eu me senti culpada de tudo, de viajar, trabalhar, foi difícil o processo de entender que preciso ser feliz, que está tudo bem fazer o que você gosta de fazer”. Marília Mendonça para o ‘Fantástico’
Não sou mãe ainda, sigo no papel de filha. Na minha experiência pessoal, minha mãe deixou de trabalhar integralmente para cuidar de mim. Nunca perguntei se foi pela sensação de culpa que Marília sentia, ou pelo descanso que Adele tanto preza entre os álbuns que lança. Será que devo fazer essa pergunta?
Tanto Marília, quanto Adele e minha mãe, se separaram e criaram as filhas quase sozinhas, mas com a presença dos pais na criação dos filhos. No dia da morte de Marília, Leo estava com o pai, Murilo Huff. Adele cria o filho ao lado de Simon Konecki e segundo fontes do jornal The Mirror, os dois têm uma dinâmica familiar moderna, já minha mãe, não se importou com a decisão judicial e me criou sem amarras com meu pai, será que temos uma dinâmica familiar moderna?
Mas tirando minha situação familiar do texto, trago a pergunta que será bem difícil de fazer a Adele e nunca poderei fazer a Marília: o que é mais difícil? Cuidar de um filho separada do pai da criança, ou ser uma Diva internacional?
Turnês, álbuns, músicas, lives. A vida de uma Diva pop não é fácil, tanto que Marília tem músicas escritas, gravadas e prestes a lançar. E Leo estava envolvido neste mundo musical ao lado da avó Ruth e do pai, Murilo, que também tinha agenda cheia de shows, turnês, álbuns, músicas e lives. Ser uma empresa em forma humana pode ser um grande fardo a carregar, sem férias ou descanso.
Adele resolveu este problema fazendo shows logo após álbuns e decretando hiatos depois de realizar as turnês. No último, ela passou seis anos cuidando da vida pessoal, do filho e descansando para nos presentear com ‘30’. A cantora inclusive contou que quando explodiu na música, tinha medo de terminar a vida como Amy Winehouse, morta após uma overdose.
“Eu só quero fazer música. Quero dizer, ainda desejo ter um pouco de influência em 10 anos. Mas tudo o que eu quis fazer na vida sempre foi cantar”, disse em entrevista.
Mesmo compartilhando a responsabilidade de criar uma criança, é notório que Adele, Marília e outras mães com carreiras enormes e sobrepõem a vida pessoal, sentem a falta e a necessidade de estar ao lado do filho a todo tempo. Muitos podem dizer que este é o mito da super-mulher e sintoma do patriarcado, mas tanto Adele quanto Marília mostram que não é bem assim.
É o dilema da carreira ou vida pessoal, mas elevado a outro patamar. Enquanto nós, seres comuns vivemos no dilema de deixar de ir a um evento familiar devido ao trabalho, cantoras como Marília e Adele seguem longe das crias, seja por shows a milhares de quilômetros, seja pela morte. Como diz a letra de ‘My Little Love’, de Adele:
“Eu estou tão longe e você é o único que pode me salvar”
Angelo ainda não tem noção da fama da mãe, tanto que brinca com o ofício dela e pensa que ser Diva é apenas mais um trabalho comum, como todos os outros.
Os quase dois anos de presença física de Marília na vida de Leo foram essenciais para ele aprender quem era a mãe dele e do amor dela. Mas Leo não teve a oportunidade de aprender mais a fundo sobre o ofício da mãe e de propriamente sentir saudade dela durante as turnês, mas irá sentir pelo resto da vida dele.