Santos é uma grande favela
Essa semana a cidade de Santos está sofrendo uma profunda divisão. Há os que apoiam a quarentena e há os empresários que querem a retomada do trabalho.
Buzinaço, panelaço e afins ecoam pela cidade. Mas o assunto não é esse, como no título, vou te mostrar porque Santos, apesar de ter o 3º maior IDH do país, com 0,840, é uma grande favela.
Nasci e cresci em Santos. Na área insular, mais precisamente no bairro da Aparecida. As únicas periferias que eu conhecia eram o BNH, ao lado do shopping Praiamar e alguns bairros bem afastados que sempre tinha uma história ou outra.
E para mim Santos sempre foi a cidade modelo, enquanto o Rio de Janeiro e cidades vizinhas tinham violência por todo o lado, Santos parecia próxima da realidade de “primeiro mundo” que tantas cidades almejam.
Mas um dia a realidade vem e te dá um tapa na cara.
Até os meus 12 anos eu vivia nessa bolha da classe média, achando que a cidade era incrível e que a prefeitura pensava e muito nos cidadãos. Até que a realidade começou a dar pequenos tapas na minha cara.
Aos poucos, descobri que Santos apesar de ser muito bonita em um primeiro momento, tem a maior favela de palafitas da América Latina, tem uma área continental praticamente esquecida (acho que ouvi Caruara na televisão apenas 10 vezes na minha vida) e os morros têm muita, mas muita violência policial e não são usados apenas para eventos esportivos.
E aí, com 16 anos de idade, me deparo com o documentário Por trás do cartão postal no festival Curta Santos, com uma edição por ano transmitido pela televisão nas madrugadas de domingo. Esse documentário me marcou, pois a realidade da periferia está mais perto do que eu imaginava e que os governantes e a mídia da região fazem questão de mascarar as mazelas da cidade.
Pergunto a vocês que são de Santos:
Quantas vezes vocês viram algum projeto entregue pela prefeitura em bairros periféricos da cidade?
Durante a pandemia e a quarentena, quantas vezes vocês viram ações da mídia e da prefeitura nas periferias de Santos?
Quantos tiroteios ou mortes decorrentes de brutalidade policial são noticiadas?
É, se ligou?
Santos tem muitos problemas, mas o mais grave é esse. Empurrar para debaixo do tapete a desigualdade e as mazelas que temos e externar apenas as coisas boas da cidade.
E enquanto carreatas buzinam por aí pedindo para todos voltarem a trabalhar, a única vereadora que tentou fazer um projeto para auxiliar comunidades com equipamentos de higiene teve que fazer uma vaquinha para conseguir tocar o projeto, porque a prefeitura foi omissa com a situação.
Te provei que Santos é uma grande favela? Que é disfarçada de “berço da caridade, terra da liberdade e obra prima da natureza”? Até a música de aniversário dos 466 anos da cidade mente, porque se Santos é o reduto do caiçara hospitaleiro, São Paulo é uma cidade pacata e tranquila.