O que somos senão memória?
Assisti o vídeo do Quadro em Branco sobre Bacurau e um ponto interessante no roteiro do filme: sempre que um visitante chegava, os moradores da cidade os convidavam a ir no Museu de Bacurau. Porque, mesmo que não tivesse mais nenhum habitante, a memória de Bacurau ainda está ali, viva.
E aí coube a reflexão, o que somos nós, senão memória?
Sem experiências, aprendizados, erros, lutas, alegrias e tristezas, seríamos feitos de quê? Pense, você só é quem é depois de passar pelo o que passou. Sabendo de tudo, lembrando e tendo memórias, nos formamos como pessoa, profissional e cidadão.
E a memória também evita de nós sermos enganados por quem quer a todo custo apagar o que somos. Esquecer o que é machismo, racismo, homofobia e agregar a memória que o sistema quer. Se esqueço de tudo isso, a chance de eu exercer o papel que o sistema quer é bem alto.
Se não lembro do contexo à minha volta, tudo o que vivi e o que vi, me anulo perante o que está acontecendo e o que devo fazer. Sei que é difícil toda hora ter que se ater às memórias e lembrar quem somos, mas se não estamos atentos, perdemos.
Como os personagens do sul em Bacurau, que não lembravam que eram simples latinos e por isso se achavam mais parecidos com os gringos do que com os dois que mataram, para não “morrer”, é bom lembrarmos quem somos.
Mas sabe, é do paulista esquecer a própria história. Esquecer que este era o estado mais pobre, que quem ajudou a construír São Paulo foram imigrantes, nordestinos e negros. Que não somos o principal estado do país e principalmente: Que a cultura paulista não nasceu em São Paulo, é uma mistura.
Bem, São Paulo não é Bacurau, na realidade não somos ninguém, porque não temos memória. E sem memória, não somos nada. Somos marionetes prontas para o trabalho.
Pensa agora, sem tudo o que você passou, quem você seria?