Era só mais uma terça.

Luiza Lemos
2 min readAug 7, 2020

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Bandeira do Líbano

Dia 4 de agosto de 2020. 18 horas.
Apenas mais uma terça acabando em Beirute, Líbano. Apesar de uma das maiores crises financeira e política que o país passa, muitos estavam apenas vivendo, trabalhando e até fazendo um vídeo de casamento.

Mas tudo isso foi interrompido por um mistura letal de irresponsabilidade, nitrato de amônio, fogos de artifício e outros materiais. Imagine estar saindo do trabalho e ser surpreendido por uma explosão cinematográfica?

Inimaginável? Até terça a ideia de que uma bomba ou explosão mudava o curso de um dia e até de um país ficara para trás no imaginário de muitas pessoas pelo mundo.

E enquanto países estavam prestando solidariedade, acusações recaiam ao grupo Hezbollah e até ao Estado de Israel, os civis estavam em pânico pelas ruas de Beirute procurando parentes, atendimento médico e tentando entender o que tinha acabado de acontecer. Enquanto nós brasileiros esperávamos mais notícias, libaneses não faziam ideia do que tinha acabado de ocorrer.

Ataque? Terrorismo? Terremoto? Para muitos não havia nem tempo de perguntar e sim escapar dos escombros e da desgraça que estava assolando os arredores do porto de Beirute. E se não fossem os celulares e a postagem em massa de vídeos e fotos do ocorrido, não teríamos a dimensão do sofrimento das pessoas.

Pode até ser uma crítica a cobertura da tragédia? Sim, porque quem está no Brasil sequer entende a dimensão de uma explosão, de um ataque, do que seja no outro lado do mundo. Mas devemos voltar os olhos para as pessoas, não para a parte dos escombros.

Era só mais uma terça acabando, entrevistas sendo finalizadas e o verão libanês sendo aproveitado para tirar fotos e comemorar um novo casamento que estava por vir. A tragédia que aconteceu em minutos nos ensina que em toda tragédia, pessoas estavam envolvidas, não números.

Quando uma tragédia acontece, lembramos rapidamente de outras que ceifaram vidas e mudaram a rotina de milhares de pessoas. Mariana, Brumadinho, Ninho do Urubu, quase 100 mil mortos de covid-19.

Não devemos esquecer, não devemos deixar que os números sejam insignificantes, que se tornem apenas marcos na história. Devemos pensar que cada número é uma pessoa, uma família destruída por uma tragédia que é uma combinação de irresponsabilidade e negligência. O exercício é simples: a vida parou, mudou radicalmente e há perdas materiais e de vidas.

Mas um ser humano é muito mais importante do que um negócio, do que um porto, do que a imagem de um clube ou empresa de mineração. Não podemos esquecer.

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Luiza Lemos
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Written by Luiza Lemos

Refletindo sobre o básico, achando o extraordinário no comum, ou não.

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