Embrulha para presente?
Há uma frase de Guimarães Rosa que diz que “a vida embrulha tudo” e no fim dela, diz que “o que a vida quer da gente é coragem”. Apesar de repetida a exaustão muitas vezes por filósofos de internet, e até pela autora deste texto, a frase às vezes volta à memória como um sopro divino no ouvido.
No último mês, presenciei um tipo de desabrochar de uma flor verde-oliva, como a produção de um presente muito bem embrulhado pela vida, com pitadas de coragem.
Digo coragem porque vi que era necessário ter tal característica, que se mostrou imprescindível para enfrentar o processo de desabrochar. Sair do conforto do tênis e jaleco para o coturno e o uniforme já requer uma bravura que a vida parece obrigar a ter.
E claro, como toda mudança brusca, vem o medo. O receio de enfrentar o novo, sair do branco da semente para o verde do broto que nasce em meio às duras pedras do caminho. Desistir até seria opção, mas o que seria da vida sem o “aperta e afrouxa” de Guimarães Rosa?
Com o sossego, veio a hora de ‘desinquietar’. Nada como as surpresas da vida, não? Com o correr, um machucado, daqueles que fazem o desabrochar da flor até parecer impossível.
Mas a vida segue pedindo coragem e não seria no meio do processo que se perderia tudo, não é mesmo?
Dias passam, como o correr da vida. E nesse período, mesmo com todos os apertos, afrouxes e afins, um belo presente de aniversário era preparado, sem ao menos a flor entender tantos trâmites apenas para desabrochar.
E em meio ao sol escaldante de uma onda de calor atípica no meio de março, o presente embrulhado pela vida é entregue. Como uma bela flor que desabrocha na adversidade, ela é entregue em forma de aspirante para a jardineira que plantou essa semente, 23 anos atrás.
A felicidade da jardineira, obviamente, vai além da sensação de dever cumprido de cuidar para que a flor desabrochasse, independente dos percalços que a vida fosse apresentar. Naquele dia quente de março houve a prova de que o tempo que a jardineira dedicou àquela flor, em 23 anos e alguns meses, fez o presente ser ainda mais especial.
Junto das espadas, bandeiras, gritos de guerra e várias prestações de continência, vem a alegria de um belo presente, embrulhado pela vida e recheado de coragem.