De Abujamra a Mac Miller: é hora de lembrar da morte
Um dos meus vídeos favoritos do Antônio Abujamra é ele recitando ‘Eu sei, mas não devia’, de Marina Colasanti no ‘Provocações’. Não deveríamos nos acostumar, mas a gente aceita e acostuma, perde a vida se acostumando. Como ele recita no fim: “a gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma”.
Ao mesmo tempo, um dos meus clipes favoritos de Mac Miller é ‘Self Care’, em que o cantor está enterrado vivo e não se preocupa em sair dali, tanto, que gasta o tempo que precisa entalhando na madeira do caixão a expressão memento mori.
Não, ele não estava conjurando uma magia à lá Harry Potter. Ele estava entalhando a expressão latina que em português, significa lembre-se de que você é mortal. É como aqueles ditados hedonistas que falam para aproveitar o dia e deixar as preocupações de lado, só que um pouco mais claro: é bom lembrar que a sua vida é efêmera, antes que a gaste com qualquer besteira.
Noto nos últimos tempos que as pessoas, mesmo vendo tanta morte por perto, esqueceram que são mortais e que a vida pode acabar em um piscar de olhos. Dois anos após a pandemia começar, onde estão todas as melhorias que o mundo teria após ver que a vida pode acabar por um vírus com o mesmo nome de uma cerveja?
A importância que se dá para problemas banais e assuntos aleatórios é tão grande, que perdemos a noção do que realmente é valioso. Não estou aqui para te dizer com o que você deve se importar ou que você deve valorizar a família, amizades e afins. Se quiser valorizar sei lá, até o mais fútil dos itens, pode ir à vontade, desde que te complete e te faça feliz.
Mas lembre-se: você vai morrer.
É chato, saber que um dia tudo acaba, eu sei. Mas se não há esse puxão de orelha te mostrando que você está desperdiçando tempo de vida se importando com o que falam, com o que pode acontecer ou com o que aquela pessoa está fazendo que possa te tirar do sério, tudo perde sentido.
Além de não podermos nos acostumar e saber que um dia, tudo acaba, é bom desviar das futilidades e das cortinas de fumaça que a vida corrida, conectada e urgente traz. Não podemos nos acostumar que dia vai, dia vem e o mesmo machucado está entre nós, como uma música em um disco arranhado repetindo o mesmo verso e agredindo os ouvidos de quem escuta.
Após dois anos de pandemia, quase 700 mil vidas perdidas só no Brasil e muitas outras por motivos também trágicos, não me parece coerente pensar que seguimos perdendo a cabeça por tal publicação no feed ou por aquela atitude chata de outra pessoa. Todos esses problemas vão embora de qualquer jeito. Que tal tirar essa pedra do sapato antes que ela vire um pedregulho?
No fim, nada é como queremos, nem quando queremos. Abujamra morreu da forma que achava mais chata: dormindo, em paz. Já Mac Miller faleceu aos 26 anos, repleto de projetos, após uma overdose acidental.
Por isso, repito: você vai morrer um dia. Não gaste seu tempo com estresse.